segunda-feira, 5 de abril de 2010

CLIPPINGS

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CRÍTICA de Mariangela Alves de Lima, ESTADÃO

Aqui você encontra trechos da crítica, o texto completo está no link CLIPPINGS

“...a vigência dessa relação construída sobre os alicerces etéreos da afinidade e da atração sexual só tem para defendê-la dois corpos desarmados. E é sobre essa perspectiva do embate corporal que se organiza o espetáculo idealizado pelos intérpretes Isabella Lemos e Marcelo Pacífico...”

“...É a tonicidade do diálogo corporal e verbal assumida pelos intérpretes do espetáculo que indica a dimensão da perda. Porque são ambos vigorosos, atentos e receptivos aos sinais do parceiro em cena, os dois intérpretes formam uma unidade em que não há ponto de fissura aparente. Estão ainda ligados e, na aparência, formam um amálgama cuja dissolução os diálogos anunciam, mas que não se realiza em cena. Mesmo quando se agridem, os encaixes são precisos e aparentemente naturais, tal como os combates estilizados na coreografia dos tangos. Assemelham-se nas roupas, assemelham-se na interação coreográfica e, por vezes, sugerem um organismo com um sistema sanguíneo único...”

“...Isabella Lemos e Marcelo Pacífico veem sob um ângulo bem definido a peça que escolheram, representam com imagens bonitas e preparo técnico incomum as rápidas mutações do texto e, desde o primeiro momento, seguram com rédea curta a emotividade das personagens para evitar a tonalidade fácil do melodrama.”

Mariangela Alves de Lima, “Quando a noite cai sobre o amor”, O ESTADO DE SÃO PAULO, Caderno 2, 17 de fevereiro de 2009

DEPOIMENTO Maria Sílvia Betti

O projeto de adaptação e encenação de "Mão na Luva", texto dramatúrgico de Oduvaldo Vianna Filho escrito em 1966, é oportuno e instigante para todos os que consideram que o teatro tem um papel a cumprir no que diz respeito à formação de um pensamento crítico sobre o país. Trata-se de uma peça de caráter experimental crivada de recortes espaço-temporais e impregnada de forte lirismo, escrita pouco depois da instauração da ditadura militar, quando os elos de ligação do teatro com o trabalho artístico politicamente empenhado produzido na fase anterior haviam sido sumariamente interrompidos.
Em “Mão na Luva” Vianinha procura apurar suas estratégias formais no sentido de figurar e discutir os impasses vividos pela intelectualidade de esquerda, setor de que se constituía, aliás, a maioria esmagadora do público ao qual seu trabalho havia voltado a se direcionar após o golpe. O texto, nunca dado a público por ele em vida, é um desafiador exercício interpretativo e uma inegável e importantíssima provocação no sentido de colocar em debate a relação entre as opções e rupturas formais praticadas pelo autor e as questões históricas e políticas tratadas em sua dramaturgia.
O Grupo TAPA tem um extraordinário lastro de trabalho ligado à pesquisa dramatúrgica e cênica, e uma inquestionável importância no sentido de construir e de aprofundar o estudo sistemático do teatro brasileiro e da dramaturgia nacional. Lembre-se, a esse respeito, que o TAPA foi responsável pela recolocação do teatro de Vianinha em pauta e em cena num momento histórico em que as peças do autor eram invariavelmente classificadas como “datadas” e como desprovidas de diálogo artístico com o presente histórico-social do país.
Isabella Lemos e Marcelo Pacífico apresentam o perfil imprescindível para o trabalho necessário a uma proposta de montagem de “Mão na Luva”: além de uma apurada sensibilidade interpretativa e excelente trabalho corporal, possuem uma significativa motivação também para o estudo aprofundado das questões formais e de sua relação com a matéria histórica e social tratada pelo autor.
O trabalho proposto por Isabella Lemos e por Marcelo Pacífico não poderia, portanto, encontrar melhor solo para se desenvolver do que o Núcleo de Estudos do Grupo TAPA, onde vêm desenvolvendo uma longa e enriquecedora trajetória de pesquisa iniciada em 2007. É importante acrescentar, a esse respeito, que o trabalho em andamento tem a supervisão de diretores com a estatura artística de Eduardo Tolentino de Araújo, de Guilherme Sant´Anna e de Brian Penido Ross.
Em vista de todas essas considerações, RECOMENDO de forma irrestritamente favorável, o projeto por eles apresentado de adaptação e encenação de “Mão na Luva”, de Oduvaldo Vianna Filho.

Maria Sílvia Betti
Docente da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). Mestre e Doutora na obra de Vianinha

DEPOIMENTO Eduardo Tolentino

Dentre os diversos autores já trabalhados pelo Grupo TAPA, desde sua fundação em 1979, Oduvaldo Vianna Filho é um dos dramaturgos brasileiros mais instigantes e desafiadores. A força e poesia de seu texto são diretamente aliadas a um experimentalismo cênico que desafia não só os atores, como seu público.
Passamos por este processo nas montagens de Moço em Estado de Sítio e Corpo a Corpo, ambas exigindo um longo processo de elaboração até que se chegasse a um entendimento e comportamento condizente com o texto proposto por Vianinha e também dentro dos padrões do grupo.
O trabalho iniciado por Isabella Lemos e Marcelo Pacífico em 2007 foi surpreendente na medida em que eles encontraram uma forma muito particular de encenar este texto e este autor, se apoderando com muita propriedade do tema para criar sua própria linguagem cênica, além de possuírem o perfil adequado aos personagens.
O apoio e coordenação de Brian Penido e Guilherme Sant´anna foram muito importantes dentro do processo, que contou ainda com a participação de estudiosos do autor e sua obra, além de atores do grupo TAPA que participaram das montagens supracitadas, como André Garolli e ZéCarlos Machado.
Este projeto recebeu até aqui apoio e supervisão irrestrita do grupo TAPA e merece ser considerado por sua alta qualidade e valor cultural.

Eduardo Tolentino de Araújo
Diretor/Fundador do Grupo TAPA

SINOPSE

MÃO NA LUVA enfoca a noite de separação de um casal, chamados pelo autor de Ele e Ela, após nove anos de casamento. Unidos por força da atração mútua e pela cumplicidade de ideais compartilhados, o casal discute esta separação em uma sequência de movimentos de aproximação e distanciamento ritmados pela pulsação emocional das duas personagens, em cenas entrecortadas por flashes.

“um apaixonadíssimo poema de amor, recitado através de diálogos de um lirismo desenfreado, às vezes singularmente pouco submisso às normas do raciocínio...”
Yan Michalski, crítico teatral.

Ele é jornalista de uma revista que está se vendendo aos interesses econômicos e políticos da época. Idealista, busca organizar uma publicação independente junto com companheiros de trabalho. Mas ao se render ao regime, tomando o lugar de um dos companheiros que já havia deixado a revista, Ele sobe na vida, contradiz todos os seus ideais e perde a estima dos amigos e, principalmente, da mulher, Ela.

Ao rever a história de 9 anos de casamento, que inclui ainda aventuras extraconjugais de ambos os lados, Ela anuncia o desejo de deixá-lo, acusando-o de fraqueza moral. A questão ética vivida por Ele tem o mesmo peso dramático da traição amorosa.
Assim, discutindo princípios, coerência ideológica, oportunismo e infidelidade, Vianinha trata de amor, confiança e relações, sem fugir de sua dramaturgia engajada.

TEXTO e AUTOR

TEXTO - Finalizado em 27 de julho 1966, a peça foi arquivada por Vianinha e nunca levada a público. Dentre as várias hipóteses, acredita-se que ele a tenha guardado por entender que ela não combinava com a proposta cultural do Grupo Opinião, do qual fazia parte à época.
A peça só foi resgatada por sua viúva, Maria Lúcia Marins, aproximadamente 18 anos depois, durante uma pesquisa de compilação de todos os trabalhos do dramaturgo. O nome original deste texto era o mesmo de outra peça de Vianinha escrita em 1970, Corpo a Corpo. Assim, optou-se por chamar a peça de MÃO NA LUVA, frase que é citada no texto e o define muito bem. A primeira e mais relevante das pouquíssimas montagens do texto até hoje foi realizada em 1984, dirigida por Aderbal Freire Filho, com Marco Nanini e Juliana Carneiro da Cunha interpretando o casal.

AUTOR - Nascido em 04 de junho de 1936, em Humaitá, Rio de Janeiro, filho do teatrólogo Oduvaldo Vianna e de Deocélia Vianna, Vianinha (como sempre foi conhecido) viveu intensos e produtivos – mas curtos - 38 anos.

“Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha (1936-1974), tornou-se o paradigma do artista criador e intelectual consciente do Terceiro Mundo, que acreditou na arte como forma de conhecimento e a utilizou como arma para a libertação. Com paixão avassaladora e uma dedicação quase religiosa, Vianinha se entregou inteiro à utopia de, como artista e cidadão, ‘mudar o mundo’...”
Alcione Araújo, no prefácio do livro Vianinha Cúmplice da Paixão de Dênis de Moraes.


Dramaturgo, ator, roteirista de cinema e televisão, participou ativamente (muitas vezes como fundador e líder) de vários movimentos e grupos teatrais e políticos.
Vianinha recebeu vários prêmios por seus textos teatrais, inclusive alguns póstumos em virtude de terem sido censurados pela ditadura. E está em lugar de destaque na dramaturgia brasileira por obras como: MÃO NA LUVA, Moço em Estado de Sítio, Corpo a Corpo, Papa Highirte e Rasga Coração.
Faleceu em 16 de julho de 1974, vítima de tumor no pulmão.

O PROJETO

Este projeto foi iniciado por Isabella Lemos e Marcelo Pacífico em julho de 2007, dentro do Núcleo de Estudos para Atores Profissionais do Grupo TAPA, em São Paulo. Estreou em 20 de janeiro de 2009 após um ano e meio de intensa pesquisa e ensaios.

Completando 31 anos em 2010 e sendo uns dos grupos teatrais mais respeitados e premiados do país, o TAPA possui este Núcleo de Estudos desde 1999, coordenado por Brian Penido Ross e Guilherme Sant´Anna e supervisionado por Eduardo Tolentino, diretor e fundador do grupo.

O Núcleo desenvolve estudos e experimentos sobre o patrimônio da dramaturgia universal, visando reciclar e desenvolver o trabalho de profissionais já atuantes no mercado. Sempre dentro de um diálogo direto com a formação artística e intelectual do TAPA.

Dentre os vários autores e textos estudados, MÃO NA LUVA, de Oduvaldo Vianna Filho, foi a peça escolhida pelos dois atores para se aprofundarem na obra de um dos mais importantes dramaturgos brasileiros.

Os primeiros resultados apresentados geraram grande expectativa para que o trabalho continuasse se desenvolvendo, até que os atores receberam a proposta de Eduardo Tolentino para que o texto fosse montado em sua íntegra, sob a supervisão e tutela do Grupo TAPA, se tornando assim a primeira montagem profissional saída do Núcleo de Estudos.

Em sua temporada de estréia, MÃO NA LUVA foi encenada de terça a domingo durante quatro semanas. E, em pouco mais de um mês, já havia completado mais de 40 apresentações. Desde então a peça realizou novas importantes temporadas na capital, viajou por várias cidades e festivais nacionais e internacionais e abriu o ano de 2010 como uma das peças do Panorama do Teatro Brasileiro – 2ª geração, mostra idealizada pelo Grupo TAPA.